Urias de Oliveira Filho
BIOGRAFIA
O Paulista que renasceu em Goiás
Urias de Oliveira Filho nasceu em 05 de janeiro de 1927 em Araraquara, SP. Filho de Urias Rodrigues de Oliveira e Ana Ferraz de Oliveira. Casou-se com Timira Motta de Oliveira e tiveram cinco filhos: Celso, Sérgio, Ideli, Silvia e Silvio de Oliveira. Cursou o ensino primário nas cidades de José Bonifácio e São Carlos, ambas no Estado de São Paulo. Fez o curso ginasial no Ginásio Martins Fontes em São Paulo/SP e o secundário em Araraquara, também no Estado de São Paulo.
1955
Formou-se em Contabilidade pela Fundação Armando Alvares Penteado em São Paulo/SP.
Ouvindo falar de Goiânia
Urias trabalhava como contador em uma empresa onde assumira grande responsabilidade. Nos anos de 1950, um contador formado, além do prestígio que a profissão lhe reconhecia – pois exercia cargo de extrema confiança e segurança da empresa – também era recompensado financeiramente por sua atuação. Portanto, sua vida encontrava-se em momento estável e próspero.
Já casado e com três filhos, a tendência era realizar o “sonho americano” e sossegar.
Entretanto, inúmeras vezes, sofria assédio de fornecedores e clientes pedindo o famoso “jeitinho brasileiro” para driblar uma ou outra documentação e, dessa maneira, facilitar alguma negociação ou mesmo algum imposto que fora esquecido e assim, evitar o pagamento de multas.
Urias com toda a gentileza e educação que lhe era peculiar, conseguia se esquivar de todos esses assédios sempre com muito bom humor. Jamais aceitava favorecer o erro e ainda convencia a todos, com alegria, que o correto era o melhor a ser feito.
Após tantos anos observando esse comportamento ilibado de Urias, um fornecedor o convidou para ser sócio em uma empresa de Representação.
O sócio entraria com o capital e Urias com sua força de trabalho e sua honestidade. O comentário do então sócio foi que jamais tinha conhecido alguém com tantas chances de prosperar ilicitamente e jamais ter feito. Porém, o sócio ficaria em São Paulo e Urias comandaria a Representação em Goiânia.
1957
Urias de Oliveira Filho deixa a família em São Paulo e parte sozinho para Goiânia, o casal decide que Urias deve se estabelecer antes que todos se mudem. É o começo do desbravamento de uma vida. É o começo da Goiás Ferro. Todos os meses retornava para abastecer sua empresa e para visitar sua esposa D. Timira Motta de Oliveira e seus até então, três filhos: Celso, Sérgio e Ideli de Oliveira.
1958
O casal se reúne em Goiânia e a adota como sua cidade natal. Um início difícil e penoso para uma família acostumada com opções de lazer e conforto – Goiânia ainda engatinhava. Sequer havia uma sorveteria, pizzaria ou opções de lazer na cidade. Os momentos de recreação familiar que outrora aconteciam frequentemente, deixaram de acontecer.
Não existia chuveiro elétrico em Goiânia nessa época, nem mesmo fogão e forno a gás. Vivia-se como na Europa de 1800, quando se usava um cano por onde passava a água através das brasas do fogão e do forno à lenha, a tão saudosa serpentina. E essa serpentina levava a água quente até o chuveiro do banheiro.
Geladeira também não existia na época, as pessoas compravam barras de gelo para refrigerarem seus alimentos. Energia elétrica – quando tinha – era intermitente.
Ao perceber as condições ainda precárias de abastecimento da cidade de Goiânia e de todo o Estado de Goiás, Urias começou a expandir seus negócios. Todos os meses mandava vir um caminhão de São Paulo para trazer produtos para abastecer a loja e nele vinham também 2 botijões de gás.
Nesse mesmo ano, já bem conhecido por seus serviços, Urias mantém a Representação Goiás Ferro que posteriormente se tornou a Representação UOF e identificando tantas possibilidades de novos negócios, abre a Distribuidora Araguaia de produtos da Bozzano, administrada por Timira que já naquela época fazia vendas apenas por telefone para salões de beleza e lojas de artigos de higiene e cuidados pessoais. Comprou uma bicicleta de carga e contratou um rapaz para fazer as entregas. O empreendimento cresceu tanto que foi necessário montar uma loja em Campinas de portas abertas ao público.
1960
Nasce a quarta filha do casal, Silvia de Oliveira e três anos mais tarde (1963), o quinto e último filho do casal, Silvio de Oliveira, ambos goianienses.
Urias começa a trabalhar com material elétrico de alta tensão e desde então, com sua visão de empreendedor, só ampliou os recursos de sua Representação que tornou-se bem sucedida.
1961
Surge a primeira pizzaria em Goiânia na rua 4, mas o pizzaiolo ainda não conhecia o orégano. Ao menos um dos sonhos de D. Timira estava se realizando: reunir-se com a família para comer pizza aos finais de semana. Ainda faltavam os picolés, os cachorros-quentes e alguns quitutes da modernidade que chegariam com o tempo.
Urias voltou a passear com a família e a contribuir para que cada vez mais, as facilidades de uma vida moderna chegassem à Goiânia.
1962
Finalmente chega a televisão em Goiânia! Com apenas um canal de transmissão e apenas 3 horas por dia, mas foi motivo de muito alvoroço e alegria.
Urias de Oliveira Filho se não foi o primeiro, foi um dos primeiros a comprar um aparelho de televisão no Estado de Goiás.
Um dos sonhos de Urias sempre foi ter uma família numerosa, já que teve apenas uma irmã consanguínea – Terezinha. Portanto, quando recebeu um convite para ingressar na Maçonaria, não titubeou e aceitou. Foi iniciado na Loja Simbólica Paz Universal 17 em 28 de julho de 1962. Exerceu cargos de Venerável Mestre e também, ocupou cargos de relevancia na Grande Loja Maçônica do Estado de Goiás como Grande Secretário das Relações Interiores. Foi Grão Mestre no período administrativo de 1978 a 1981.
1963
Mais um sonho do casal, mais um quitute: o cachorro-quente chegou na Anhanguera com a rua 7, no Café Central – local conhecido onde pessoas se reuniam para beber, conversar e dizem que até para contratar pistoleiros. Apesar de o local ser muito frequentado, Urias vai com a família matar mais essa vontade.
Talvez a expressão “tudo sempre acaba em pizza” tenha surgido desses encontros no Café Central em Goiânia…
"Causos"
Maneiras hilárias de fazer cobranças
Certa vez, Urias precisou cobrar um amigo que já devia há muito tempo. Após muitas tentativas de acordos, cobranças amigáveis e lembretes espirituosos, infelizmente foi necessário ir até a casa do devedor.
Ao chegar na residência do amigo, foi recebido pela sogra. Pediu para falar com o amigo, porém a sogra já sabia do que se tratava e foi logo falando rispidamente, dizendo que ele não tinha vergonha de aparecer desse jeito sem avisar, principalmente porque seu genro estava passando por um momento muito delicado, pois sua filha necessitava de doação de sangue!
Imediatamente Urias respondeu:
– Mas é exatamente este o motivo da minha visita! Eu vim para doar meu sangue.
Obviamente a dívida foi paga, mas podemos dizer que essa foi uma dívida de sangue(?).
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Outro “causo” inesquecível foi o de um grande amigo, que comprou muito material da loja do Sr. Urias. Comprou, comprou e comprou e na hora de pagar… Fugiu, fugiu e fugiu.
Urias telefonava, deixava recados e sempre muito educado, mantinha sua calma e elegância. Até que em um dia, decidiu ir até a residência do amigo. Ao chegar, recebeu a informação que o amigo tinha ido ao cinema.
De repente, Urias sentiu um desejo enorme de contemplar a sétima arte e se dirigiu, também, ao cinema da cidade.
Coincidentemente, havia um lugar vago exatamente ao lado do seu grande amigo (devedor). Enquanto o filme era exibido, os dois amigos puderam conversar e ao final da exibição, a dívida estava quitada!
É impressionante o que o cinema faz com nossas emoções, não é mesmo?
1982
Em 17 de maio de 1982 Urias de Oliveira Filho veio à óbito. Deixou um legado de admiradores por seu trabalho secular, familiar e social. Recebeu homenagens como: a Rua Urias de Oliveira Filho, situada na Vila União em Goiânia/Goiás; Loja Maçônica Urias de Oliveira Filho 108; o livro “Histórias que se Fundem – A Perpetuação de um Legado” de Adolfo Ribeiro Valadares entre muitas outras.